quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Nostalgia I...

E toda vez que se volta de casa é a mesma sensação de querer ficar. É a mesma vontade de não deixar, de voltar, de não acabar.É engraçado como as coisas se transformam com o tempo, até mesmo nossos objetivos, metas, jeito e gostos.

Me lembro de ter frio na barriga de ansiedade quando o assunto era escolher minha faculdade, a ansiedade em morar sozinha, ter meu espaço, minha responsabilidade e independência. Hoje, tenho tudo isso e mais um pouco... tenho contas empilhadas para pagar,tenho que administrar e poupar o meu dinheiro, tenho que ir ao supermercado comprar alimentos e os produtos de limpeza, tenho que me preocupar com o jantar, tenho horários para cumprir sozinha, as vezes tenho que arrumar a casa e lavar as roupas que eu pretendo usar...tenho que ir à faculdade, teoricamente passar nas matérias e por aí vai...

Como as coisas mudam!!!

Que saudades do almoço pronto quando eu chegava do colégio, que saudades de me preocupar somente com a prova de português, que saudades de ter como conta só a dívida da cantina.... Que saudades!

A nossa felicidade se molda em cima do nosso cotidiano que aponta para um determinado objetivo, sempre! Você vive em cima daquilo que sonha, daquilo que almeja. Você é feliz à partir do momento em que você corre atrás do seu objetivo, e mesmo que não o alcance, fica feliz pelo simples fato de ter tentado.

Hoje todos os meus sonhos (acreditem: todos mesmo), foram realizados. Tudo aquilo que sonhei desde os 14, 15 anos aconteceu. Junto com isso, junto com meus desejos realizados vieram centenas de decepções. Houveram decepções na faculdade, na cidade, nas pessoas e até em mim mesma.

Mas isso não me entristeceu, pelo contrário, me fortaleceu.

Hoje meus sonhos se modificaram junto com a minha idade e maturidade. Sonhos mais realistas e menos emocionais, sonhos mais plausíveis e possíveis. Sonhos sem contos de fadas, mas que me cedem o gostoso sabor da esperança para enfrentar um novo e atarefado dia. Porque se não for assim, não há felicidade.

A saudade, e a ida para o antigo lar, se tornam um refúgio para aquela que aparenta fortaleza. Junto ao passado é aonde renovamos forças para moldar nosso futuro. Lá é o local aonde se reaproveita o bom do que passou e o modifica para adequar no que vai acontecer. É lá onde se encontra pessoas queridas que te relembram quem você é, da onde você veio e porque é assim. É lá onde ficam aqueles que te oferecem suporte, carinho e proteção. É lá onde há o melhor ombro amigo e o melhor colo.
É lá da onde vim e para onde sempre irei quando precisar refletir e revigorar.

Minha vida se baseia naquilo que amo, naquilo que gosto e naquilo que sinto saudades. É com isso que monto meu quadro de metas, de sonhos. O foco hoje já não está mais em mim, mas sim naqueles que me tornaram quem eu sou. Que me moldaram e que me ajudaram, mesmo que indiretamente, a realizar todos meus objetivos.
Hoje é a eles que dedico meus dias, que traço meu caminho, que planejo o futuro. Hoje é para eles que dedico minhas saudades e que peço a felicidade.
Hoje é a eles que eu agradeço e que dedico o meu sucesso, mesmo que morrendo de saudades e de vontade de ficar eu vou voltar, lutar e fazer, mas dessa vez para surpreender a essas pessoas que sempre me fizeram engrandecer.

Os meus sonhos são grandes e meu caminho longo, espero que isso seja suficiente para mais uma vez vencer e dar a quem eu gosto tudo aquilo de mais bonito, tudo aquilo de mais singelo, enfim, aquilo que sonhei.

(Fabiana Nonaka Ferraz)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Um pouco tarde para voltar atrás...

Levantou cedo e saiu de casa sem dizer sequer uma palavra e muito menos aonde iria, sua mulher concluiu que na certa ele teria ido atrás de alguma oportunidade de emprego que encontrou entre os classificados do jornal do dia anterior. Apesar do diploma em Comunicação Social, o Higor não conseguia se fixar no emprego por mais de seis meses, talvez fosse pelo seu jeito sempre explosivo e personalidade difícil.
No entanto, naquele dia ele decidiu apenas ir à praia, e ter um tempo só para ele. Sentou-se na areia e por muito tempo permaneceu ali admirando a imensidão do mar e tentando reorganizar, pelo menos em partes, os seus pensamentos(...)Foi quando avistou um rosto conhecido vindo em sua direção, achou se tratar de uma confusão ou de um delírio louco, mas a medida que ela se aproximava, ele teve certeza que de fato era ela: a Flavinha, uma ex-namorada que ele não via a mais de 8 anos. O tempo parecia não ter passado para ela: radiante, linda e encantadora como sempre.
Ela passou ao seu lado e talvez por distração ou simples pressa não tenha reconhecido-o, mas na realidade o tempo não havia sido tão generoso assim com ele, mesmo com apenas 30 anos, pelo menos a aparência era de homem bem mais velho: muitos cabelos brancos, barba por fazer, rosto abatido(...)
Quando se deu conta que ela não o reconhecera, ele decide chamá-la pelo nome:-Fláviaaaaaaaaaaaa...
Um pouco surpresa ela olhou fixamente para ele durante alguns instantes, e ao reconhecê-lo, sorriu e meio que instantaneamente o abraçou firme e forte como nos velhos tempos, e naquele momento ele desejou que o tempo parasse.
Ambos estavam surpresos em se reencontrarem daquela forma, depois de tanto tempo sem se ver. Resolveram então ir ao quiosque mais próximo para poderem conversar um pouco mais. Ela linda, elegante e simpática sempre arrumava inúmeros admiradores por onde passava, ele teve então a estranha impressão que todos a sua volta estivessem prestando atenção à conversa deles.
À medida que o papo desenrolava, ele pensava em como as coisas poderiam ter sido tão diferentes se eles não houvessem rompido com ela por uma simples implicância dele, e teve a nítida sensação de ter perdido a mulher da sua vida(...)Ela disse que estava na cidade a trabalho, pois era uma das palestrantes do Encontro Nacional de Ciência e Tecnologia, logo esse assunto rendeu e ela acabou contando que havia terminado o seu Doutorado numa Parceria entre a USP e uma Universidade Inglesa(...)Com apenas 27 anos, ela era dona de um currículo invejado e era peça chave numa das maiores empresas de tecnologia do país, como se não bastasse isso, ainda era incrivelmente atraente, extremamente simpática e bem-humorada.
Ela reparou que já havia falado praticamente tudo sobre ela, e ele ainda não havia sequer começado, logo achou que seria interessante demonstrar interesse em perguntá-lo sobre os últimos 8 anos, nesse momento ele sentiu-se um completo fracassado, pois havia apenas terminado o curso de Comunicação Social numa faculdade fundo de quinta e atualmente encontrava-se desempregado. Havia se casado com a Patrícia, a primeira que apareceu depois dela, teve dois filhos e ainda mora no apartamento da sogra. Mesmo sentindo-se um completo fracassado, o sentimento de confiança do tempo que eles namoravam invadiu-o e ele sentiu-se completamente a vontade em abrir sua vida e seu coração para ela, e contou todas as dificuldades que ele estava passando,
A Flávia ouviu atentamente todas as lamentações dele, e ofereceu ajuda, deu-lhe até um cartão pessoal, e disse que poderia ligar a hora que quisesse, mas ela precisava ir, pois tinha uma reunião importante que não poderia sequer sonhar em faltar, despediu-se e caminhou em direção a um estacionamento do outro lado da rua. Ele ficou observando-a de longe...enquanto ela manobrava o carro, ele pensava que ainda precisaria pegar dois ônibus pra chegar em casa.
Na volta, ele não cansava de olhar para o cartão que ela lhe dera, nele vinha escrito:
“Eng. Flávia da Rocha Andrade
Graduada em Eng. Mecânica pela UFMG
Pós-Graduada em Eng. De Controle e Automação pela PUC-SP
Doutora em Eng. de Materiais pela USP em parceria com a Oxford(Inglaterra)”
(...)
Ele sentia-se cada vez mais arrependido por ter tomados tantas decisões precipitadas em sua vida, e recordou-se de todas as vezes em que ela falava da importância de levar os estudos mais a sério, e de todas as discussões e brigas que isso gerou entre eles, talvez esse fosse um dos principais motivos do fim do relacionamento entre os dois.Só hoje ele se deu conta que ela sempre esteve certa.
Mas agora já era um pouco tarde para voltar atrás(...)


(Fabiana Nonaka Ferraz)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Que saudades do meu Herói...

Eu sempre achei que o "Tempo" iria se encarregar de curar certas feridas em minha alma, mas somente há alguns dias atrás, me dei conta de que algumas coisas são para sempre, e nada, absolutamente nada é capaz de preencher certos vazios que nos consomem.
Pessimismo? Não.
Eu até concordo que "Tempo" realmente seja o melhor remédio para algumas dores da alma, mas algumas feridas ainda permanecem e estarão para sempre cravadas na nossa efêmera existência.
14 anos se passaram... 14 aniversários... 14 dias dos pais...14 dias das crianças...14 natais...14 verões...14...14...14...
Ninguém nunca saberá a falta que você me fez, nos mais de 5.100 dias posteriores à sua partida. Eu precisei me reinventar dia a dia...eu me refiz mais de 5.100 vezes...
Uma parte de mim morreu junto com você, mas uma parte de você ainda vive em mim. E é essa parte que me dá força para continuar seguindo em frente, sempre firme, porque jamais me esquecerei das promessas que eu te fiz.
Não há um dia sequer que eu não me lembre de você, mesmo já tendo passado tanto tempo, lá no fundo eu ainda não me conformei.
Desde pequena, as semanas que antecediam o Dia dos Pais sempre foram um grande tormento pra mim, todos os preparativos para confraternização de pais, cartões e afins...tudo isso me incomodava muito. Era traumatizante ser a única órfã de pai, ver todos os coleguinhas se empenhando em preparar uma "surpresa" para os pais e a professora tentando amenizar meu desconforto sempre mandava eu escrever para algum dos meus avôs.Mas que estranho! Eu também não tinha nenhum avô...então elas sugeriam que eu escrevesse pra minha mãe mesmo. Concordo em grau, número e gênero que minha mãe é um exemplo de mulher e sempre desempenhou o papel de mãe e pai muito bem, aliás o de pai ainda melhor...rs... mas no dia dos pais, escrever pra ela não era a mesma coisa.
Jamais vou esquecer do meu primeiro dia na escolinha, minha mãe deu um perdido e foi trabalhar, e quem teve que ficar na casinha de brinquedos comigo? Sim...sim...ele mesmo...meu PAI...meu herói.
Ahhhhh...que Saudade!
Não sinto revolta em não ter crescido como uma criança "normal".
Só lamento não ter tido você ao meu lado nesses mais de 5.100 dias que se passaram.
Eu ainda tenho o chaveiro que te daria no ultimo dia dos pais que "passaríamos" juntos, na realidade você nem pode aproveitar o presente. Sempre que algo me angustiava eu apertava o chaveiro bem forte e de certa forma aquilo ia me acalmando e me dando uma força sobrenatural.
Recordo-me vagamente da última visita que eu lhe fiz, foi em um hospital aqui mesmo em Belo Horizonte...você já estava bem abatido...e de certa forma já sabia de tudo que estava por vir dali pra frente.Você fez a gente prometer algumas coisas, inclusive fez o Guilherme prometer que seria o homem da casa dali pra frente, como a gente era criança...eu com 5 anos, e ele com 4... não entendemos o real significado de todas aquelas palavras...e nem desconfiávamos que aquilo significava na verdade um adeus...achamos que seria apenas um até logo.
Ainda guardo a imagem do meu Herói deitado no leito de um Hospital, sem forças para lutar pela própria vida, vencido entregue à doença...Mas é em nome desse herói que eu Lutei... Luto...e Lutarei por toda minha vida.
Te amarei eternamente meu Anjo.

(Fabiana Nonaka Ferraz)